Primeiro parque eólico flutuante da Europa ao largo da costa portuguesa ergue-se a 210 metros acima do nível do Atlântico Norte. As três turbinas desta notável obra de engenharia geram eletricidade suficiente para abastecer 60 000 famílias, evitando a emissão de cerca de 33 000 toneladas de CO2 por ano.

O Oceano Atlântico ao largo da costa norte de Portugal é bem conhecido pelo seu vento e pelas suas ondas. Atrai surfistas de todo o mundo e as fortes tempestades que o fustigam frequentemente durante os meses de inverno dificultam, desde sempre, a navegação. No entanto, graças a uma notável obra de engenharia, acolhe agora o primeiro parque eólico flutuante da Europa.

Apenas a 20 quilómetros ao largo da cidade de Viana do Castelo, três turbinas gigantes com pás de 80 metros – mais altas do que um arranha-céus de 60 andares – erguem-se a 210 metros acima do nível do mar. Trata-se das maiores turbinas eólicas alguma vez instaladas em plataformas flutuantes.

É um feito que teria sido difícil de imaginar há uma década, mas o WindFloat Atlantic fornece eletricidade a mais de 60 000 famílias desde julho de 2020.

A entrar no seu quarto ano de exploração em 2024, este parque eólico marítimo produz anualmente energia limpa para 25 000 famílias portuguesas. A empresa está lentamente a aumentar a capacidade de produção de eletricidade todos os anos, tendo alcançado os 80 GWh em 2023.

Criado como um consórcio entre a EDP Renováveis, a Repsol, a Engie e a Principle Power e com um financiamento de 60 milhões de EUR do Banco Europeu de Investimento, estima-se que o WindFloat Atlantic evite até 33 000 toneladas de emissões de CO2 por ano.

Por que razão o parque eólico flutuante capta mais vento?

José Pinheiro, diretor do projeto WindFloat Atlantic, afirma que estes parques eólicos flutuantes apresentam muitas vantagens. Em primeiro lugar, há o vento. Ao contrário dos parques eólicos terrestres, não existem obstáculos à sua passagem, pelo que o vento é constante e fiável e, apesar da reputação desta região, é menos turbulento do que em terra.

«Em termos de vento, podemos afirmar que, normalmente, existe uma proporcionalidade direta entre o afastamento da costa e o potencial eólico», explica. E menos turbulência significa «menos danos e um menor desgaste do equipamento mecânico».

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Como se mantém a estabilidade do parque eólico flutuante?

Mas como é possível manter estáveis estas estruturas tão altas num local onde as ondas podem facilmente ultrapassar os 15 metros? «O que torna o WindFloat Atlantic diferente de outros parques eólicos marítimos é a tecnologia desenvolvida e utilizada: as plataformas flutuantes», esclarece José Pinheiro.

As plataformas semissubmersíveis são uma inovação criada inicialmente pela indústria dos combustíveis fósseis que foi posteriormente adaptada para suportar estas turbinas gigantes no meio da incrível força do Atlântico.

As plataformas, em si, são maciças, com três colunas de 29 metros de altura e 12 metros de diâmetro, dispostas num triângulo equilátero. O princípio subjacente à manutenção da estabilidade das gigantes torres com turbinas é o mesmo que se aplica aos navios: o lastro.

Mas estas plataformas flutuantes apresentam outra vantagem. «A sua estabilidade é reforçada por um sistema de comportas que enchem de água a base dos três pilares, associado a um sistema de lastro estático e dinâmico», explica José Pinheiro.

A água pode ser deslocada entre os pilares para contrabalançar a força do vento. As estruturas são capazes de resistir a ondas de até 20 metros e a ventos superiores a 100 quilómetros por hora.

O nível de preparação destas estruturas foi posto à prova durante a tempestade Ciarán no final de 2023, com vagas que alcançaram a altura máxima de 20 metros e rajadas de vento que atingiram os 139 quilómetros por hora.

As plataformas estão ancoradas ao fundo marinho por meio de cabos, o que permite o seu funcionamento muito mais longe da costa, em águas mais profundas. O oceano tem cerca de 100 metros de profundidade no local onde o WindFloat Atlantic está instalado. Além disso, as plataformas podem ser rebocadas para terra quando necessitam de manutenção ou eventual substituição.

Parque eólico flutuante – o futuro

José Pinheiro afirma que a tecnologia, agora comprovada, é o futuro da energia eólica marítima. «Existe uma maior urgência devido à necessária transição climática», declara, «e as empresas do setor da energia, como a EDP e a EDP Renováveis, podem desempenhar um papel importante. Com as competências que desenvolvemos, esperamos dar novos passos neste domínio.»

José Pinheiro informa que, através da Ocean Winds, um consórcio entre a EDP Renováveis e a Engie, estão a ser desenvolvidos novos parques eólicos ao largo da costa espanhola, onde a empresa tem projetos nas Astúrias e nas Ilhas Canárias, bem como em França e na Escócia, entre outros locais.

Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que era comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação à data da aprovação do projeto, afirmou que o apoio do Banco ao projeto «constitui mais um exemplo de como o financiamento da UE está a ajudar a diminuir os riscos associados à implementação de soluções energéticas inovadoras, como o WindFloat.» «Precisamos de tecnologias inovadoras para acelerar a transição para as energias limpas na Europa e liderar o combate às alterações climáticas a nível mundial.»

O WindFloat Atlantic foi reconhecido em 2023 como um dos mais importantes projetos de engenharia do século XXI pela Ordem dos Engenheiros portuguesa, que representa cerca de 62 000 engenheiros em Portugal.