O Banco Europeu de Investimento (BEI) publicou as conclusões da edição do Inquérito do BEI sobre o Clima respeitante à América Latina e às Caraíbas. A sondagem, realizada em maio de 2023, recolheu respostas de mais de 10 500 participantes de 13 países da região[1], incluindo 1 000 brasileiros. O inquérito tem por objetivo compreender as perceções sobre as alterações climáticas, o seu impacto na população e as expectativas em relação às políticas públicas de resposta à urgência da ação climática.
Principais conclusões
- 90 % dos inquiridos brasileiros consideram que as alterações climáticas têm impacto na sua vida quotidiana.
- 83 % são favoráveis a medidas governamentais mais rigorosas que obriguem as pessoas a alterar o seu comportamento para combater as alterações climáticas.
- 65 % afirmam que as alterações climáticas afetam os seus rendimentos ou meios de subsistência.
- Mais de metade (52 %) dos inquiridos consideram que poderão ter de se mudar para outra região ou outro país devido às alterações climáticas.
- 78 % defendem que se privilegiem os investimentos em fontes de energia renováveis.
Os resultados do Inquérito do BEI sobre o Clima revelam que as alterações climáticas e a degradação ambiental são agora consideradas como um dos principais desafios que o Brasil enfrenta, a par da violência e da criminalidade, da pobreza e da desigualdade, do desemprego e dos desequilíbrios sociais. De um modo geral, a América Latina apresenta uma percentagem relativamente baixa de negacionistas das alterações climáticas, com uma média de 5 % por país (7 % no Brasil). 72 % dos brasileiros reconhecem que atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis são os fatores que mais contribuem para as alterações climáticas. Esta sensibilização é crucial para mobilizar o apoio do público às políticas destinadas a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
O impacto na vida quotidiana
Entre os inquiridos brasileiros, 90 % afirmam sentir os efeitos das alterações climáticas na sua vida quotidiana, sendo que mais de metade da população (51 %) afirma que as afetam «muito». Regista-se uma percentagem bastante elevada em todos os países inquiridos, desde o Uruguai, com 84 %, até ao Salvador, no topo da lista com 96 %, o que reflete as consequências tangíveis dos fenómenos meteorológicos extremos e da degradação ambiental. Por exemplo, 27 % dos brasileiros já sofreram com a escassez de água (nomeadamente cortes no abastecimento e conflitos relativos a recursos hídricos). Além disso, 65 % dos inquiridos no Brasil indicam que as alterações climáticas afetam negativamente os seus rendimentos ou as suas fontes de subsistência. Este sentimento é confirmado por uma maioria de inquiridos em cada país, variando os valores entre 58 % no Uruguai e 77 % no Peru.
Preocupação com as migrações relacionadas com o clima
Uma conclusão surpreendente é que metade dos inquiridos brasileiros (52 %) consideram que poderão ter de se mudar para outra região ou outro país devido às alterações climáticas. Em 9 dos 13 países inquiridos, mais de metade da população acredita nesta possibilidade (de 50 % na Argentina e no Brasil a 61 % no Equador). O sentimento é mais forte entre os inquiridos brasileiros mais jovens, sendo esta convicção partilhada por 56 % dos inquiridos com menos de 30 anos.
Apoio público à atuação dos governos
No Brasil, 83 % dos inquiridos são favoráveis à aplicação pelo Governo de medidas mais rigorosas de luta contra as alterações climáticas. Este sentimento é claramente predominante em toda a região, variando as percentagens entre 83 % no Brasil e na Argentina e uns impressionantes 95 % no Peru, e demonstra disposição para aceitar alterações nas políticas e no estilo de vida em prol da sustentabilidade ambiental a longo prazo. Quando questionados sobre qual deveria ser o objetivo principal do Governo, 74 % dos inquiridos brasileiros afirmaram que deveria ser a proteção do ambiente e o crescimento sustentável e não o crescimento económico a qualquer custo.
As políticas de combate às alterações climáticas e de proteção ambiental – em especial as suas repercussões – são encaradas de forma positiva pelos brasileiros. Em primeiro lugar, quase dois terços (71 %) dos brasileiros consideram que estas políticas melhorarão o seu bem-estar quotidiano, por exemplo, através da alimentação e da saúde – embora numa proporção inferior à média latino-americana (76 %).
Do mesmo modo, 68 % dos brasileiros consideram que as referidas políticas constituirão uma fonte de crescimento económico e de prosperidade para o seu país, e 67 % consideram que os novos postos de trabalho criados por aquelas políticas superarão os postos de trabalho que as mesmas irão eliminar.
Opções energéticas orientadas para o futuro
No Brasil, 78 % dos inquiridos afirmam que o país deve dar prioridade aos investimentos em energias renováveis em detrimento dos combustíveis fósseis ou de outras fontes de energia poluentes. 48 % preferem fontes renováveis de grande escala, tais como as centrais hidroelétricas, eólicas, fotovoltaicas ou geotérmicas, e 30 % favorecem as fontes renováveis de menor dimensão, nomeadamente os painéis solares de telhado ou as centrais mini-hídricas. Esta preferência pelo investimento em energias renováveis reflete uma sensibilização crescente dos brasileiros para a importância da sustentabilidade e o papel das energias limpas no combate às alterações climáticas.
> Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do BEI responsável pela América Latina e Caraíbas e pela investigação económica:
«O Inquérito do BEI sobre o Clima reflete a crescente consciência e preocupação dos brasileiros e da população da América Latina e das Caraíbas em geral relativamente aos riscos das alterações climáticas. Através da EIB Global, pretendemos estabelecer parcerias com governos, cidades e empresas do Brasil, a fim de apoiar a ação climática no terreno através de investimentos ecológicos e resilientes. Incentivamos potenciais clientes a contactar o nosso gabinete de Bogotá.»
> Ambroise Fayolle, vice-presidente do BEI responsável pela ação climática:
«Os resultados do Inquérito do BEI sobre o Clima na América Latina e nas Caraíbas evidenciam umaforte consciência do público de que a transição ecológica pode ser uma força motriz do crescimento económico. No BEI, estamos firmes no nosso compromisso de ajudar a região a acelerar a transição ecológica e a reforçar a resiliência aos impactos das alterações climáticas.»
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Todos os dados do inquérito estão disponíveis aqui.
Sobre o BEI:
O Banco Europeu de Investimento é a instituição de financiamento a longo prazo da União Europeia, cujo capital é detido pelos Estados-Membros. Concede financiamentos a longo prazo para investimentos viáveis que contribuam para a concretização dos objetivos estratégicos da UE. O BEI disponibiliza a experiência e os conhecimentos especializados dos seus engenheiros e economistas internos para ajudar a desenvolver e a apreciar projetos de alta qualidade. Enquanto instituição de financiamento ao serviço das políticas da UE, com notação AAA, o BEI oferece condições financeiras atrativas: taxas de juro competitivas e empréstimos com uma duração consentânea com os projetos. Através das suas parcerias com a União Europeia e com outros doadores, o BEI está muitas vezes em condições de conceder subvenções para reforçar o impacto dos projetos que apoia em termos de desenvolvimento.
Sobre a EIB Global no Brasil:
O BEI é o maior banco público multilateral do mundo e, em 2022, financiou cerca de 10 800 milhões de EUR em investimentos no exterior da União Europeia através da EIB Global, a direção do BEI criada em 2022 para as atividades no exterior da União Europeia. Desde o início das suas operações no Brasil, em 1997, o banco da UE disponibilizou mais de 5 432 milhões de EUR para financiar investimentos em condições favoráveis (tanto em termos de prazos de vencimento como de taxas de juro), com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.
Sobre a EIB Global na América Latina:
A EIB Global presta apoio económico a projetos na América Latina desde 2022, facilitando o investimento a longo prazo em condições favoráveis e prestando a assistência técnica necessária para garantir que estes projetos produzem resultados positivos em termos sociais, económicos e ambientais. Desde o início das operações do BEI na América Latina, em 1993, o Banco disponibilizou, no total, cerca de 13 mil milhões de EUR em financiamento para apoiar mais de 150 projetos em 15 países da região.
Sobre a estratégia Global Gateway:
A EIB Global é um parceiro fundamental na execução da estratégia Global Gateway da União Europeia, apoiando projetos viáveis que melhoram a conectividade regional e global nos setores das tecnologias digitais, do clima, dos transportes, da saúde, da energia e da educação. O investimento na conectividade ocupa um lugar central na atividade da EIB Global, tirando partido dos 65 anos de experiência do Banco neste domínio. Juntamente com os nossos parceiros, as outras instituições da UE e os Estados-Membros da UE, visamos apoiar, até ao final de 2027, investimentos de 100 mil milhões de EUR, cerca de um terço do montante global da estratégia, nomeadamente no Brasil e na América Latina.
Sobre a BVA:
A BVA é uma empresa internacional de estudos de mercado especializada na análise de dados e do comportamento dos consumidores. A BVA estabelece parcerias com várias organizações para disponibilizar os resultados de inquéritos e estudos de mercado abrangentes.
[1] Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Salvador e Uruguai.